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OCUPAÇÃO MULHERIO

A pesquisa e a vontade de reunir artistas mulheres de diversas gerações e vibrações deu origem, em 2022, à exposição MULHERIO. O título resgatou o nome deste importante periódico feminista dos anos 1980 para provocar sobre o “corpo” feminino a partir de diferentes visões e poéticas. O sucesso da mostra, levou a Danielian a transformar o evento numa ação bienal integrada à pauta e à agenda da galeria. Nesta segunda edição, a proposta se expande para todos os espaços expositivos e apresenta cinco individuais, onde o público poderá ter um contato mais íntimo e profundo com a produção de cada artista. OCUPAÇÃO MULHERIO não parte de uma premissa ou de um enlace temático, mas tem como principal objetivo demonstrar a importância da trajetória destas mulheres para o ambiente cultural brasileiro, assim como a força e poesia de suas expressões. Os títulos que diferenciam cada mostra, ESSÊNCIAS, FÁBULAS, HARMONIAS, MARÉS e SON(H)OS, são insinuações para que os visitantes possam conhecer e criar relações sensíveis com as obras expostas. Sem categorizações ou classificações, OCUPAÇÃO MULHERIO reafirma espaços e conquistas, mostrando que a arte representa o poder essencial feminino de criar e acima de tudo, transformar.

NADIA TAQUARY | MARÉS

Água e vida se confundem entre os fluxos da existência. Mares e marés relevam o ritmo silencioso e cadenciado de uma relação cósmica que nos faz microscópicos. Diante da Babel contemporânea, os corpos femininos revelam a sabedoria dos ciclos, da nossa conexão essencial de vida e morte, princípio e fim. Entre as suas investigações mais recentes, Nadia Taquary resgata a mitologia e cosmogonia iorubana das Ìyàmì, as Grandes Mães Ancestrais. Deturpados nas barbáries da diáspora africana, estes cultos e crenças remetem às tradições milenares de sociedades matriarcais onde a força das mulheres não se limitava à sua capacidade de gestar, mas expandiam-se a partir da compreensão de um poder feminino criador e realizador, essencial à vida em suas várias formas e características. Em Insondável mistério, nas aquarelas de vermelhos vibrantes e nas esculturas Mulher-Pássaro e Menina Pássaro (Arẹyẹgbọ́), Nadia mergulha neste universo de símbolos e imagens e recupera saberes que consideravam o ciclo menstrual como o ponto de conexão entre o mundo físico e o espiritual. Além de sua importância como resgate histórico e como referência para a construção de um pensamento decolonial, estas provocações vão além das mitologias e refletem a realidade brasileira em que a mulher é a base das articulações sociais, e mais ainda, onde a mulher preta representa a estrutura comunitária e familiar brasileira.

E nestas conexões entre o humano e o sagrado, a Mulher-Peixe e Mami Wata nos conduzem a outras águas e pensamentos. Se no dito popular, cada cabeça é uma sentença, nas religiões brasileiras de matrizes africanas, cada cabeça é uma coroa, um panteão sagrado de deuses e mistérios, louvado entre histórias, oferendas, rezas, danças e canções: ORIKIS. No cíclico movimento das águas, as Yabás representadas pelos Dinka – Orixás de Nadia Taquary nos acolhem entre suas profundezas, na lama primal, em seus córregos ligeiros e no marulho de suas ondas, lembrando que somos feitos de sangue, alma e água.

SONIA MENNABARRETO | FÁBULAS

O que é a realidade? Essa pergunta paira na história entre correntes do pensamento. A busca pela resposta reafirma antagonicamente as noções de invenção, alucinação e fabulação e o ser racional negocia definições e acordos em função de suas necessidades e desejos. Nos jogos entre o que é, o que foi, o que nunca será e o que pode vir a ser, Sonia Menna Barreto dialoga com uma tradição da arte em torcer o olhar para capturar a atenção e divagar. Essa estratégia, mais popularizada pelo surrealismo, aparece tanto em Bosch (século XVI) e Arcimboldo (século XVI) como em diversas outras representações visuais ao longo dos tempos. Em seus trabalhos, Sonia recupera imagens e referências subvertendo suas funções de maneira anedótica. Entre sua produção mais recente, a padronagem da porcelana chinesa conhecida como Blue Willow (salgueiro azul), produzida a partir do século XIX para atender ao consumo europeu, serve de ambiente para uma série de apropriações criadas pela artista. Como um Romeu e Julieta chinês, esta cena idílica conta a história de uma jovem, filha de um rico comerciante, que se apaixona por um dos empregados de seu pai. Entre dramas e aventuras, o casal foge e é perseguido quase até a morte, quando são salvos pelos deuses que os transformam em um casal de pombos que podem então se amar. Através de repetições, desmembramentos e inserções de elementos extrínsecos a esse universo, Sônia reconta e provoca conexões entre este conto de fadas e a usabilidade destas peças de porcelana em seu uso cotidiano.

Tanto das pinturas como nas esculturas, o processo de criação de Sonia parte dessa ideia de contação de histórias, de deslocamento de tempo e espaço e de apropriação de universos estéticos e plásticos que organizam a sua produção. O oriente, com destaque às tradições chinesas e japonesas, orienta as séries sobre as porcelanas e as estamparias. A pintura de Velázquez, principalmente Las Meninas, fornece o molde para brincadeiras visuais que vão desde pinturas famosas até ícones da cultura pop. Enquanto isso, as esculturas em bronze, de figuração precisa, flertam com o Noir e o art deco das primeiras décadas do século XX, quando a amplificação das técnicas de fundição transformou este material em objeto de status e sofisticação de uma burguesia em ascensão. Resultante destas operações de fusão entre realidade, história, lenda e imaginação, as obras de Sonia Menna Barreto nos conduzem ao devaneio e à fantasia e representam a ação essencial do artista: construir mundos.

NIURA BELLAVINHA | ESSÊNCIAS

A matéria é o que define a existência. A racionalidade desta constatação orienta a nossa percepção no mapeamento de tudo que já é conhecido e daquilo que ainda não foi classificado. Ser, como verbo transitivo, exige um complemento. Tudo que é, é alguma coisa. E a arte, como porta voz das manifestações que mostram a incapacidade destas definições se vê constantemente nas paradoxais relações entre o material, o espiritual e o sensível, fazendo acordos, concessões, apropriações e subversões que reafirmam a inconsistência dos absolutos. Niura Bellavinha vem há décadas explorando as ações de pintura a partir de um constante embate entre matérias, pigmentos e suportes. Além da operação tradicional de aplicar as tintas, fazem parte do seu repertório o lavar, o atravessar, o arranhar, o extrapolar, o suprimir entre tantas outras dinâmicas que revelam um interesse pelo vetor resultante destes encontros, muito além de uma abstração que traga as caligrafias do gesto do artista. Como pintura de ação (action painting), suas obras não se descolam das rupturas neoconcretas brasileiras que partem para o corpo, mas oferecem a compreensão da ação do artista como o ativador de forças que constroem a obra de arte a partir de enfrentamentos e interrupções.

Esse interesse pelo material, que impulsiona Niura na pesquisa de cores e texturas de diversas matrizes, criou uma espécie de Ouroboros na sua obra. Símbolo da eternidade, a imagem mitológica da serpente que morde a própria cauda serve de metáfora para um momento de sua trajetória em que a artista utiliza tanto pigmentos de ferro e da terra das Minas Gerais como fragmentos de meteoritos pulverizados sobre a seda, criando uma interação entre micropartículas e macrovisões, entre o imperceptível e o inegável: o essencial. A pintura surge como revelação da luz através dos conjuntos de Póros e Translúcidos, presentes nesta mostra. Da imensidão surgem os ritmos e manchas que perpassam a tela sem origem ou destino, entregues à contemplação de sua passagem, revelados entre imagens do céu, da terra e do infinito. Como arauto do insondável, Niura tateia o universo em busca da cor, da luz, do ritmo e do som da existência.

MARCIA BARROZO DO AMARAL | HARMONIAS

Cor é linguagem. Como um código criado a partir de nossas capacidades visuais, organizamos suas diferenças a partir de espectros, vibrações, graduações e contrastes, numa relação inseparável com a ação da luz. Portanto, cor é luz. A trajetória artística de Marcia Barrozo do Amaral revela, em meio aos desdobramentos geométricos dos anos 1970 e os cromatismos extravagantes do pop, uma pesquisa das relações entre as cores e os volumes. Antes de sua atuação como uma das mais ativas marchandes do Brasil, Márcia desenvolveu uma produção com destaque no nosso cenário artístico entre os anos de 1960 e 1980, a partir de uma formação sólida, da realização de diversas exposições individuais e da participação em coletivas tanto no Brasil como no exterior.

Seus trabalhos privilegiam a geometria no tensionamento e na quebra da bidimensionalidade da pintura. A cor guia um processo de experimentação que assimila diferentes materiais, como o acrílico, e transforma os trabalhos em híbridos entre a pintura e a escultura. A partir de jogos e articulações de fendas, faixas e linhas que buscam o espaço, as investigações de Marcia Barrozo se aproximam tanto de uma tradição neoconcreta brasileira, com Oiticica, Clark, Barsotti e Willis de Castro como também estabelecem diálogos com artistas americanas como Ellsworth Kelly. A harmonia, como uma noção que acompanha a ideia de composição, surge da interação entre opostos e complementares guiada pela relação entre as diferentes vibrações da cor e demonstra a sutileza e o olhar apurado e sensível de Marcia. Estas características de suas obras e de sua personalidade garantem seu lugar tanto na memória do nosso ambiente cultural como na escrita de uma história da arte brasileira plural e fundamentada em vidas, pesquisas e trajetórias.

NELLY GUTMACHER | SON(H)OS

Anjos, máscaras, faces, rochas, figuras, seios e corpos deformados; Picassos e Bacons rasgados e amalgamados que produzem universos fantásticos: sonhos. Na obra de Nelly Gutmacher a transfiguração, a justaposição e a arqueologia desvelam os caminhos do inconsciente. Nas colagens, realizadas desde os anos 1960 até os dias atuais, a artista integra sua experiência psicanalítica à uma prática de execução que incorpora o sono e vigília. As figuras e fragmentos, capturados pelo olhar entre revistas e livros, repousam guardados nas gavetas da memória visual de Nelly, que cria suas composições nos hiatos de sua vida cotidiana, ao despertar de madrugada, ou diante da lembrança deste ou daquele recorte. A composição, sem a intencionalidade racional, segue uma conexão profunda entre a criação artística e as imagens que encontram eco na estrutura psíquica de Nelly.

Nesta mostra, além das colagens, sua faceta escultórica também é representada através de um antigo vestido de noiva com diversos seios suturados. Como parte de sua ação artística, a articulação de realidades com intuito de perceber elementos não aparentes, desvela e revela um jogo contínuo de dualidades: realidade e sonho, passado e presente, vida e morte. O corpo da mulher como elemento central de suas linguagens, das deusas em barro às moldagens de fragmentos como seios e torsos, na constante busca desse elemento primário da humanidade. Não se trata do Homem universal da tradição “ocidental”, mas da mulher que gera e goza. Sua trajetória como artista mulher em um ambiente cultural ainda machista e misógino e suas provocações evidenciam a dualidade de tudo que é inerente ao humano: o rasgo e a união, Eros e Tânatos como faces da mesma MULHER, humana.

Viviane Matesco, Marcus Lontra e Rafael Peixoto

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MULHERIO
OCCUPATION

The desire to gather women artists from different generations and sensibilities gave rise to the 2022 exhibition MULHERIO. The title reclaimed the name of an important feminist publication from the 1980s, provoking reflection on the female body through diverse perspectives and poetics. Its success led Danielian Galeria to transform the event into a biennial initiative integrated into its ongoing programming. In this second edition, the project expands across all gallery spaces, presenting five solo shows that offer the public a more intimate and in-depth engagement with each artist's work.

OCUPAÇÃO MULHERIO does not follow a thematic premise; rather, its goal is to affirm the cultural importance of these women and the strength and poetry of their artistic expressions. The titles distinguishing each exhibition—ESSÊNCIAS, FÁBULAS, HARMONIAS, MARÉS, and SON(H)OS—are poetic prompts to inspire visitors to form their own sensitive connections with the artworks. Without classifications or labels, OCUPAÇÃO MULHERIO reaffirms space and achievements, asserting that art embodies the feminine power to create and, above all, to transform.

NADIA TAQUARY | MARÉS

Water and life intertwine in the ebb and flow of existence. Seas and tides reveal the quiet and rhythmic cadence of a cosmic relationship that renders us microscopic. In the face of contemporary chaos, female bodies carry the wisdom of cycles—our essential connection to life and death, beginning and end. In her most recent investigations, Nadia Taquary draws from the Yoruba mythology and cosmogony of the Ìyàmì, the Great Ancestral Mothers. Distorted by the brutalities of the African diaspora, these beliefs reflect millennia-old matriarchal traditions where female strength extended far beyond childbearing—it encompassed a generative and creative power essential to life in all its manifestations.

In Unfathomable Mystery, through vibrant red watercolors and the Bird-Woman and Bird-Girl sculptures (Arẹyẹgbọ́), Nadia delves into this universe of symbols and recovers ancestral knowledge in which the menstrual cycle was understood as a bridge between the physical and the spiritual realms. Beyond its historical relevance and value to decolonial thought, this body of work reflects the Brazilian reality, where women form the foundation of social structures—and where Black women, in particular, hold up the community and the family.

In these connections between the human and the sacred, the Fish-Woman and Mami Wata lead us to other waters and ideas. In Brazilian religions of African origin, every head is a crown—a sacred seat of gods and mysteries, praised through stories, offerings, prayers, dances, and chants: oríkìs. In the cyclical motion of water, the Yabás—female orixás portrayed in Nadia Taquary’s Dinka series—embrace us in their depths, in the primal mud, the rushing streams, and the roar of the waves, reminding us that we are made of blood, soul, and water.

SONIA MENNABARRETO | FÁBULAS

What is reality? This question hovers throughout history, debated by philosophical traditions. The pursuit of its answer often affirms opposing notions: invention, hallucination, and fabulation. The rational being negotiates definitions and meanings based on needs and desires. In the playful tension between what is, what was, what will never be, and what might be, Sonia Menna Barreto engages with a visual tradition that bends perception to capture attention and spark imagination.

This strategy—made popular by Surrealism—also appears in the works of Bosch (16th century), Arcimboldo (16th century), and many visual traditions throughout history. In her work, Sonia recovers and subverts familiar imagery in an anecdotal and whimsical manner. In her recent production, she appropriates the iconic Chinese porcelain pattern Blue Willow, created in the 19th century to satisfy European demand. This idyllic scene, akin to a Chinese Romeo and Juliet, tells the story of a young woman, the daughter of a wealthy merchant, who falls in love with one of her father’s employees. After drama and pursuit, the gods intervene and transform the lovers into a pair of doves so they may love freely.

Through repetition, fragmentation, and the insertion of external elements into this universe, Sonia retells this fairy tale and invites reflection on the function of these objects in daily life. Her paintings and sculptures emerge from this process of storytelling, temporal and spatial displacement, and aesthetic appropriation.

The Orient—particularly Chinese and Japanese traditions—informs her series on porcelain and textiles. Velázquez’s painting, especially Las Meninas, serves as a mold for visual games that stretch from classical artworks to pop culture icons. Her bronze sculptures, precisely figurative, flirt with noir and the Art Deco aesthetics of the early 20th century, when refined casting techniques turned bronze into a marker of elegance for an emerging bourgeoisie.

Born from this fusion of reality, history, legend, and imagination, Sonia Menna Barreto’s works lead us into dream and fantasy, fulfilling art’s essential role: to build new worlds.

NIURA BELLAVINHA | ESSÊNCIAS

Matter is what defines existence. This rational premise guides our perception as we map what is already known and what remains unclassified. “To be,” as a transitive verb, demands a complement. Everything that is, is something. And art, as the spokesperson of expressions that reveal the inadequacy of these definitions, constantly dwells in the paradoxical relationships between the material, the spiritual, and the sensitive—through agreements, concessions, appropriations, and subversions that reaffirm the instability of absolutes.

For decades, Niura Bellavinha has explored painting through a constant interplay of materials, pigments, and supports. Her artistic practice extends beyond applying paint—embracing actions like washing, piercing, scratching, transgressing, and suppressing, among others. These gestures reveal an interest in the resulting vector of these confrontations—far beyond abstraction or gestural calligraphy. Echoing the spirit of Brazilian Neo-Concretism, her work recalls the body’s involvement but repositions the artist’s action as a force that activates the artwork through disruption and tension.

This material exploration, which fuels Niura’s study of color and texture across multiple sources, has created a sort of ouroboros in her work. The ancient symbol of the snake eating its own tail becomes a metaphor for a pivotal moment in her career—when she began using pigments derived from iron and soil from Minas Gerais, along with meteorite dust applied to silk. This interplay between micro and macro, between the imperceptible and the undeniable, reveals the essential.

Her paintings emerge as revelations of light in the series Póros and Translúcidos featured in this exhibition. From vastness arise rhythms and stains that traverse the canvas without origin or destination, offered up for the viewer’s contemplation. These are images of sky, earth, and the infinite. As a herald of the unfathomable, Niura reaches through the cosmos in search of color, light, rhythm, and the sound of existence.

MARCIA BARROZO DO AMARAL | HARMONIAS

Color is language. As a code created from our visual capacities, we organize its distinctions through spectrums, vibrations, gradients, and contrasts—all inherently tied to light. Thus, color is light. Marcia Barrozo do Amaral’s artistic trajectory reveals a long-standing inquiry into color and volume, bridging geometric abstraction of the 1970s with the extravagant chromatics of pop.

Before becoming one of Brazil’s most prominent gallerists, Marcia developed an artistic career of note from the 1960s to the 1980s, shaped by rigorous training, solo exhibitions, and participation in group shows both nationally and abroad. Her works emphasize geometry as a means of challenging and breaking the two-dimensionality of painting. Color drives a process of experimentation that incorporates materials such as acrylics, transforming the pieces into hybrids of painting and sculpture.

Through slits, bands, and lines that seek spatial presence, her practice aligns with Brazilian Neo-Concretism—echoing Oiticica, Clark, Barsotti, and Willys de Castro—while also conversing with American artists like Ellsworth Kelly. Harmony, as both a compositional and conceptual tool, emerges from the interaction between opposites and complements, guided by the vibration of color.

These subtle qualities and Marcia’s keen, sensitive eye ensure her lasting legacy—both in Brazil’s cultural memory and in the writing of a pluralistic, research-driven history of Brazilian art.

NELLY GUTMACHER | SON(H)OS

Angels, masks, faces, rocks, figures, breasts, and deformed bodies—Picassos and Bacons torn and blended into fantastic worlds: dreams. In Nelly Gutmacher’s work, transfiguration, juxtaposition, and archaeology chart paths through the unconscious. In collages created from the 1960s to today, the artist intertwines her psychoanalytic background with an intuitive practice drawn from the borderlands between sleep and wakefulness.

Figures and fragments, culled from magazines and books, are stored in the drawers of her visual memory and reappear in compositions crafted in the gaps of daily life—upon waking in the night, or from the recollection of a particular clipping. Devoid of rational intention, these compositions arise from deep connections between artistic creation and the imagery echoing within Nelly’s psyche.

This exhibition includes both her collages and her sculptural practice, represented by a vintage wedding dress sewn with multiple breasts. In her art, real and imagined realities merge to reveal concealed elements, playing out a continual dance of dualities: reality and dream, past and present, life and death. The female body is central—whether in clay goddesses or molded fragments of breasts and torsos—as she seeks the primal essence of humanity.

Her work is not about the universal “man” of Western tradition, but about the woman who generates and rejoices. Her trajectory as a woman artist in a still-misogynistic cultural environment, and the provocations she presents, reflect the dual nature of all that is human: rupture and union, Eros and Thanatos as two faces of the same WOMAN—human.

Viviane Matesco, Marcus Lontra e Rafael Peixoto