Manuel Messias dos Santos
[Aracaju, 1945 —
Rio de Janeiro, 2001]
Com cerca de sete anos, Manuel Messias dos Santos se mudou para o Rio de Janeiro com sua mãe em busca de melhores condições de vida. Sua infância foi marcada pela memória rural nordestina e a experiência urbana de conviver entre diferentes realidades sociais e econômicas. Sua mãe, personagem central e companheira de toda a vida, trabalhou como empregada doméstica na casa de personalidades da sociedade carioca ligadas ao universo das artes. Esse contato possibilitou que o jovem Messias, que já manifestava habilidade para o desenho, pudesse ter acesso a aulas de arte a partir do início dos anos 1960. O curso livre de Ivan Serpa no MAM RJ foi o estopim para sua identificação como artista e para a sua integração no ambiente cultural da cidade.
Por incentivo de Serpa e da artista Mirian Inez, dedicou-se à xilogravura. Suas obras logo passaram a fazer parte de coletivas, salões e exposições internacionais. A produção dos primeiros anos mostra a experimentação e o amadurecimento de técnicas, com a influência expressionista de artistas como Oswaldo Goeldi e da xilogravura da literatura de cordel. No final dos anos 1960, a elaboração formal de suas obras já revela a consciência dramática que será o aspecto diferencial em suas gravuras.
Como parte de uma geração que se desenvolveu ao longo dos anos mais duros da ditadura militar, apesar de nunca ter declarado nenhum posicionamento político, Messias incorporou em suas obras a denúncia de um período marcado pelo medo e pelo terror. A série Nossa, feita ao longo da década de 1970, assume uma postura quase panfletária que nos conecta e demonstra, ao mesmo tempo, a violenta face do convívio humano. As obras de formato quadrangular escancaram incongruências da nossa sociedade e os trabalhos verticais apontam a natureza humanitária como elos para uma compreensão mais fraterna.
Manuel Messias dos Santos é um artista de qualidade e relevância inquestionáveis. Sua vida e obra revelam as marcas das injustiças e dos problemas estruturais brasileiros. Sua trajetória pessoal escancara uma realidade escondida e esquecida às margens, invisibilizada pelo racismo estrutural, pela desigualdade histórica e geográfica e pela nossa incapacidade e desinteresse em viver em harmonia social. Esta exposição, a primeira mostra institucional dedicada à sua obra, nasce da necessidade de reconhecimento e de inclusão definitiva de sua produção na escrita das tantas e tão plurais histórias da arte brasileira.
/ Around the age of seven, Manuel Messias dos Santos moved to Rio de Janeiro with his mother in search of better living conditions. His childhood was marked both by rural Northeastern memories and by the urban experience of living among different social and economic realities. His mother—a central figure and lifelong companion—worked as a domestic employee in the homes of prominent figures of Rio’s cultural scene connected to the arts. This environment allowed the young Messias, who had already shown a natural ability for drawing, to access art classes in the early 1960s. The open studio course led by Ivan Serpa at MAM Rio was the catalyst for his identification as an artist and his integration into the city’s cultural sphere.
Encouraged by Serpa and by artist Mirian Inez, he devoted himself to woodcut printing. His works soon began to appear in group exhibitions, salons, and international shows. The production of his early years reveals experimentation and technical maturation, with the expressionist influence of artists such as Oswaldo Goeldi and of the cordel woodcut tradition. By the late 1960s, the formal development of his works already revealed the dramatic awareness that would become the distinctive feature of his prints.
As part of a generation shaped during the harshest years of the military dictatorship — and despite never having made explicit political statements—Messias incorporated into his works a denunciation of a period marked by fear and terror. The series Nossa, produced throughout the 1970s, assumes an almost pamphleteering stance that simultaneously connects us to and exposes the violent face of human coexistence. The square-format works lay bare the contradictions of our society, while the vertical compositions point to humanitarian values as pathways toward a more fraternal understanding.
Manuel Messias dos Santos is an artist of unquestionable quality and relevance. His life and work reveal the imprints of Brazilian injustices and structural problems. His personal trajectory exposes a reality hidden and forgotten at the margins, made invisible by structural racism, by historical and geographic inequality, and by our collective inability—and unwillingness—to live in social harmony. This exhibition, the first institutional show dedicated to his work, arises from the need to recognize and definitively include his production within the writing of the many and plural histories of Brazilian art.