Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo (Rio de Janeiro, RJ, 1897 – 1976)
Diretor de arte que virou pintor, Newton Rezende trouxe para sua pintura a linguagem gráfica desenvolvida em sua carreira publicitária. Nascido em São Paulo, em 1912, viveu em orfanatos do primeiro até o oitavo ano de sua vida. Aos 15 anos de idade aprendeu desenho técnico com o desenhista e litógrafo Italiano Amedeo Piacitelli, com o qual passou a trabalhar, sob sua supervisão. Posteriormente, abriu seu próprio escritório e começou a trabalhar como artista gráfico e publicitário autônomo.
Na década de 1940, mudou-se do Rio de Janeiro para São Paulo e vice-versa um par de vezes, com uma pequena estadia em Buenos Aires em 1946-47. Em 1948, expôs seus desenhos pela primeira vez no Instituto dos Arquitetos do Brasil, mas sua carreira de pintor seguiu com maior vigor após expor no Salão de Arte Moderna, na década de 1950. Em 1970, abandonou totalmente a publicidade e passou a viver em uma fazenda em Colubandê, São Gonçalo, dedicando-se completamente às suas produções artísticas. Seus últimos anos foram repletos de internações hospitalares, até falecer em 1994.
Rezende transmitia à sua pintura o caráter possível da vida. Habitualmente reunia os acontecimentos e pessoas de sua vida às cenas e personagens em suas composições. Através do seu domínio técnico e estético de desenho e pintura, sua obra transcende poeticamente o naif e inventa um novo mundo, com diversos tempos condensados, entre passados e presentes, reais e imaginários. A primazia do desenho oferece corpo e base às suas composições pictóricas. Nelas, encontram-se nuances expressionistas de um lirismo chagalliano. Dentre suas inspirações confessas estavam os artistas plásticos pertencentes à segunda geração modernista paulista Candido Portinari e Clóvis Graciano.
Newton Rezende empregou ferventes cores às suas cenas dinâmicas, as quais compôs também com diversidade técnica, fazendo uso da colagem, de tipografias e do entalhe. Por meio de seus Leitmotiven (figuras condutoras) abordava uma pluralidade de temas que iam desde afetos, à sexualidade, voyeurismo, fetichismo, até preocupações sociais e políticas. Sua pintura pensa o real e o torna visível, construiu-a a partir de entendimentos intuitivos e rápidas impressões do mundo. Rezende compunha simplificando volumes e distorcendo anatomias, desrespeitando representações convencionais de corpos, cores, cenas e panoramas, e através destes gestos, cocriava sucessivamente a realidade com suas obras.
EN
Newton Rezende, an art director turned painter, brought the graphic sensibility he developed in advertising into his artwork. Born in São Paulo in 1912, he lived in orphanages from the first to the eighth year of his life. At 15, he learned technical drawing under the Italian draftsman and lithographer Amedeo Piacitelli, eventually working under his supervision. Later, he opened his own studio and became a freelance graphic artist and advertiser.
In the 1940s, Rezende moved between Rio de Janeiro and São Paulo several times, with a brief stay in Buenos Aires from 1946 to 1947. He first exhibited his drawings in 1948 at the Institute of Architects of Brazil, but it wasn’t until the 1950s—when he showed his work at the Salão de Arte Moderna—that his career as a painter started to take off. In 1970, he left advertising behind entirely and moved to a farm in Colubandê, São Gonçalo, dedicating himself fully to his career as an artist. His later years were marked by hospital stays until he passed away in 1994.
Rezende’s paintings captured the essence of life. He often blended the events and people present in his life with the scenes and characters in his compositions. Through his technical and aesthetic mastery of drawing and painting, his work poetically goes beyond the naïve and creates a new world, where different moments in time are condensed—blending past and present, reality and imagination. His compositions were grounded in strong draftsmanship, often infused with expressionist nuances and a Chagall-like lyricism. Among his acknowledged inspirations were Candido Portinari and Clóvis Graciano, artists from the second generation of São Paulo modernists.
Newton Rezende used vibrant colors in his dynamic scenes, composing them with a variety of techniques, including collage, typography, and carving. Through his leitmotifs (guiding figures), he explored a wide range of themes, from affection, sexuality, and voyeurism to fetishism and social and political issues. His paintings reflect on reality and make it visible, drawing from intuitive insights and quick impressions of the world. Rezende simplified forms and distorted anatomies, disregarding conventional representations of bodies, colors, scenes, and landscapes—in doing so, he continuously created new realities.