Odoteres Ozias
[Eugenópolis, Minas Gerais 1940 — 
Rio de Janeiro, 2011]



Odoteres Ricardo de Ozias nasceu em Eugenópolis, Minas Gerais, filho de humildes trabalhadores rurais. Passou a sua infância e juventude em meio à paisagem da zona da mata mineira, mas viveu a maior parte da sua vida em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro. A partir de 1963, trabalhou na Rede Ferroviária Federal S.A., exercendo diferentes funções, como manobrador, bilheteiro, e encarregado de portaria. Foi nesse último cargo que teve o seu primeiro e inusitado contato com a arte: para evitar o sono de horas ociosas na portaria da estação Central do Brasil, começou a desenhar e pintar com materiais que encontrava pelo escritório. Sua atividade despretensiosa chamou a atenção de uma engenheira que solicitou a sua colaboração nas ilustrações do livro Madeiras da Amazônia: identificação de 100 espécies (Rio de Janeiro: RFFSA, 1981). Alguns anos depois, outra engenheira da companhia ferroviária foi responsável por apresentar a produção de Ozias a uma comissão que o selecionou para a trigésima edição da Sala do Artista Popular, programa da Funarte e do Instituto Nacional do Folclore do Rio de Janeiro que realizou a exposição Ricardo de Ozias: pinturas em 1987. A mostra foi fundamental na trajetória de Ozias, tanto por iniciar a institucionalização de sua obra, com a incorporação de três pinturas à coleção do Museu de Folclore Edison Carneiro, quanto por contribuir significativamente para a popularização de suas pinturas, o que lhe motivou a continuar produzindo. 

No final da década de 1980 e ao longo da década seguinte, Ozias participou de dezenas de exposições individuais e coletivas no circuito da arte popular e "naïf", incluindo exposições na Europa, como uma mostra coletiva na embaixada brasileira em Paris e a Trienal Internacional de Arte Naïf I’NSITA 94, na Bratislava. No Rio de Janeiro, foi um dos membros fundadores da CAPA (Casa do Artista Plástico Afro-Brasileiro), associação que atuava no apoio à produção de artistas negros. Naquele momento, as pinturas de Ozias tematizavam principalmente cenas rurais, além de algumas representações urbanas e religiosas. Um homem muito devoto (foi pastor de seu próprio templo da Assembleia de Deus nas décadas de 1970 e 1980), Ozias veio a produzir um contingente volumoso de pinturas com um sincretismo próprio e intensamente figurativo, que mescla signos do catolicismo e protestantismo, incluindo figuras demoníacas, com elementos de religiões de matriz africana, como a umbanda. 

A segunda metade dos anos de 1990 e o começo da década seguinte foi possivelmente o período em que Ozias mais produziu. Isso foi resultado do apoio que recebeu do fundador do Museu Internacional de Arte Naïf do Rio de Janeiro (MIAN), Lucien Finkelstein, que incorporou um grande número de suas obras à coleção do museu. A partir dessa aproximação e interlocução, Ozias realizou diversas séries de trabalhos em pintura, incluindo trens, cenas de carnaval e outras festas populares, cenas religiosas, paisagens naturais com animais, esportes, e cenas da história da escravidão de africanos no Brasil. Em 2001, participou de uma mostra coletiva de artistas do MIAN no Museu Olímpico de Lausanne, na Suíça, que incorporou uma de suas pinturas ao acervo.

Ozias produziu intensamente até seus últimos anos de vida, vivendo da aposentadoria de mais de três décadas de trabalho como ferroviário e do complemento proveniente da venda de suas obras. Quando sofreu um AVC em 2010, decidiu voltar para sua terra natal, onde faleceu no ano seguinte, deixando uma esposa e os três filhos de seu primeiro casamento. 

EN

Odoteres Ricardo de Ozias was born in Eugenópolis, Minas Gerais, the son of humble rural workers. He spent his childhood and youth amid the landscape of the Minas Gerais forest region, but lived most of his life in Duque de Caxias, Rio de Janeiro. From 1963 onwards, he worked at Rede Ferroviária Federal S.A., performing various roles, such as shunter, ticket clerk, and gatekeeper. It was in this last position that he had his first and unusual contact with art: to avoid falling asleep during idle hours at the gate of Central do Brasil station, he began to draw and paint with materials he found around the office. His unpretentious activity caught the attention of an engineer who asked him to collaborate on the illustrations for the book Madeiras da Amazônia: identificação de 100 espécies (Rio de Janeiro: RFFSA, 1981). A few years later, another engineer from the railway company was responsible for presenting Ozias' work to a commission that selected him for the 30th edition of Sala do Artista Popular (Popular Artist's Room), a program run by Funarte and the National Folklore Institute of Rio de Janeiro, which held the exhibition Ricardo de Ozias: pinturas (Ricardo de Ozias: paintings) in 1987. The exhibition was fundamental in Ozias' career, both for initiating the institutionalization of his work, with the incorporation of three paintings into the collection of the Edison Carneiro Folklore Museum, and for contributing significantly to the popularization of his paintings, which motivated him to continue producing. 

In the late 1980s and throughout the following decade, Ozias participated in dozens of solo and group exhibitions in the popular and “naïf” art circuit, including exhibitions in Europe, such as a group show at the Brazilian embassy in Paris and the International Triennial of Naïf Art I'NSITA 94 in Bratislava. In Rio de Janeiro, he was one of the founding members of CAPA (Casa do Artista Plástico Afro-Brasileiro), an association that supported the work of black artists. At that time, Ozias' paintings mainly depicted rural scenes, as well as some urban and religious representations. A very devout man (he was pastor of his own Assembly of God temple in the 1970s and 1980s), Ozias produced a voluminous body of paintings with a unique and intensely figurative syncretism, mixing signs of Catholicism and Protestantism, including demonic figures, with elements of African-based religions such as Umbanda. 

The second half of the 1990s and the beginning of the following decade was possibly the period in which Ozias produced the most. This was the result of the support he received from the founder of the International Museum of Naïf Art in Rio de Janeiro (MIAN), Lucien Finkelstein, who incorporated a large number of his works into the museum's collection. From this rapprochement and dialogue, Ozias produced several series of paintings, including trains, scenes from carnival and other popular festivals, religious scenes, natural landscapes with animals, sports, and scenes from the history of African slavery in Brazil. In 2001, he participated in a collective exhibition of MIAN artists at the Olympic Museum in Lausanne, Switzerland, which incorporated one of his paintings into its collection.

Ozias produced intensely until his last years, living off his retirement from more than three decades of work as a railroad worker and the income from the sale of his works. When he suffered a stroke in 2010, he decided to return to his homeland, where he died the following year, leaving behind a wife and three children from his first marriage. 


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